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ComCultura Indica: Especial Dia das Mães

  • Ana Massonila
  • 11 de mai.
  • 6 min de leitura

Com diversas ramificações que levam à sua verdadeira origem, o Dia das Mães é, hoje, celebrado majoritariamente devido aos esforços da estadunidense Anna Jarvis (1864-1948) em promover o feriado em homenagem à sua própria mãe. Figuras endeusadas desde os tempos antigos, as mães carregam em si diversas nuances sociais, políticas, raciais e afetivas impostas pelo mundo que as cerca.


Neste Dia das Mães, o ComCultura te convida a conhecer figuras maternas de diversas obras desafiando as conveniências e estereótipos desse papel, enquanto exercem as contradições e complexidades do dever e do amor que sentem por seus filhos.


ONE DAY AT A TIME (2017)


Reprodução: Netflix


Uma reinvenção do clássico norte-americano “One Day at a Time (1975)”, a sitcom de mesmo nome foi lançada em 2017 pela Netflix e acompanha o dia-a-dia de três gerações de uma família cubana vivendo sob o mesmo teto nos Estados Unidos. Penelope Alvarez (Justina Machado), uma veterana de guerra, é a chefe da casa, ainda que o cargo esteja sempre em disputa com a sua irreverente e caricata mãe Lydia (Rita Moreno). Juntas, as duas se aventuram na criação dos dois filhos de Penelope, Elena (Isabella Gómez) e Alex (Marcel Ruiz), enquanto lidam com os próprios conflitos de uma relação marcada por traumas do passado e visões de mundo extremamente distintas. 


Com resiliência e carisma, Penelope balanceia as responsabilidades da casa, do trabalho e dos filhos com as feridas deixadas por um divórcio conturbado e pela experiência da guerra, mostrando que, apesar de ser mãe, ela é antes de tudo uma mulher se curando, aprendendo e amadurecendo.


Três primeiras temporadas disponíveis na Netflix.


SPY X FAMILY (2022)


Reprodução: Crunchyroll


Em “Spy x Family”, produção colaborativa entre os estúdios de animação japoneses Wit Studio e CloverWorks baseada em mangá de mesmo nome e lançada em 2022, acompanhamos as aventuras de uma família nada tradicional. Loid Forger, conhecido como Twilight, é um espião talentoso que precisa construir uma família falsa para cumprir sua missão atual. Ele então adota a garotinha Anya, uma telepata, e entra em um casamento por conveniência com Yor, uma assassina profissional. Mantendo suas identidades em sigilo, os três precisam proteger a fachada de “família perfeita” enquanto lidam com os desafios dos seus segredos.


No cotidiano conturbado, os laços entre os três personagens improváveis se fortalecem, principalmente entre Yor e Anya. Atrapalhada e reservada, Yor se esforça em lidar com as próprias inseguranças e dificuldades para oferecer uma boa criação à Anya, ainda que sejam apenas uma família de fachada, até porque o instinto materno não une uma mãe ao filho apenas pelo sangue.


Disponível na Crunchyroll.


LAÇO MATERNO (2020)


Reprodução: Netflix
Reprodução: Netflix

Tenso e desconfortável, “Laço Materno” (nome original “Mother”) é um drama japonês dirigido por Tatsuhi Ohmori e que rendeu à atriz Masami Ogasawa o prêmio de Melhor Atriz no Japan Academy Prize, em 2021. No filme, Masami dá vida à Akiko, uma mãe solteira, egoísta e irresponsável, e tece as nuances diárias de um relacionamento tóxico e codependente da personagem com o seu filho Shuhei (Sho Gunji). 


Ao longo da trama, a relação dos personagens cambaleia entre um amor controlador e um desapego negligente, denunciando as consequências prejudiciais de laços construídos sob a premissa socialmente instituída de que todas as mães devem amar incondicionalmente os seus filhos (quando, como Akiko, às vezes sequer conseguem amar a si próprias). 


Disponível na Netflix.


MAID (2021)


Reprodução: Netflix
Reprodução: Netflix

Antes de atuar no estrondoso e bem-sucedido “A Substância (2024)”, Margaret Qualley protagonizou a série dramática de dez episódios “Maid”, lançada em 2021 pela Netflix. Inspirada na história real narrada pela escritora Stephanie Land no livro “Superação: Trabalho duro, salário baixo e o dever de uma mãe solo (2019)”, a trama acompanha a trajetória de Alex (Margaret Qualley), uma vítima de violência doméstica que tenta sustentar a filha Maddy trabalhando como diarista e contando com o apoio escasso e burocrático do governo.


Sem eufemismos, a série destaca uma realidade comum aos olhos da sociedade, com mães mal sobrevivendo às violências enfrentadas nas mãos dos próprios maridos e do Estado enquanto buscam se manter de pé pelos filhos, ainda que tentemos escondê-la sob o tapete. Alex é o retrato da negligência de uma sociedade com mães às margens da subsistência e da determinação em continuar por quem depende delas, mesmo que não haja mais alternativas.


Disponível na Netflix.


MANHÃS DE SETEMBRO (2021)


Reprodução: Amazon Prime
Reprodução: Amazon Prime

Lançada em junho de 2021 pela Amazon Prime, “Manhãs de Setembro” homenageia a canção de mesmo nome da cantora Vanusa e conta a história de Cassandra (Liniker), uma mulher trans que trabalha como motogirl em São Paulo e finalmente alcançou a sonhada estabilidade em sua vida, se deparando com um dilema desafiador ao reencontrar a ex-namorada Leide (Karine Teles) com um garoto de 10 anos que diz ser o seu filho.


Comovente e sincera, a série narra uma trama atravessada pelas feridas das desigualdades sociais, dos desafios maternos e do abandono. Enquanto vai ainda construindo, aos tropeços, com uma complexidade sensível e por muitas vezes incômoda diante das atitudes inerentemente humanas das personagens, a relação entre Cassandra e o gentil Geisinho (Gustavo Coelho), quem busca a aceitação e o amor da segunda mãe que sequer sabia que tinha. 


Disponível na Amazon Prime.


PEQUENA COREOGRAFIA DO ADEUS (2021)


Foto: Ana Massonila
Foto: Ana Massonila

Segunda obra da escritora paulista Aline Bei e publicada em 2021, “Pequena Coreografia do Adeus” é mais uma narrativa impactante, distinta e original da autora do aclamado “O Peso do Pássaro Morto (2017)”, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2018. Através de Júlia Terra, uma jovem na casa dos vinte, a obra retrata uma existência de traumas construídos no âmbito da convivência da personagem com a sua mãe Vera, uma mulher narcisista e violenta, vítima da dependência emocional por um homem que a abandonou.


Com uma prosa poética, pela qual Aline Bei tanto se destaca, o livro destrincha os impactos e efeitos do abandono, da raiva e da dor na relação conturbada entre mãe e filha. Deixando um gosto agridoce no paladar, “Pequena Coreografia do Adeus” busca a quebra de um ciclo vicioso e cruel, distanciando Júlia e Vera, que são tão parecidas uma com a outra, dos laços codependentes e tóxicos que criaram entre si ao longo da vida, como forma de sobrevivência. 


Disponível na Amazon e em livrarias do Brasil.


CARRIE, A ESTRANHA (1976)


Reprodução: Internet
Reprodução: Internet

Inspirado no romance homônimo de terror do autor Stephen King, a primeira adaptação da obra “Carrie, a Estranha” para o cinema é o clássico dirigido por Brian de Palma, roteirizado por Lawrence D. Cohen e lançado em 1976, com duas indicações ao Oscar por Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante. A trama acompanha Carrie White (Sissy Spacek), uma garota tímida, reprimida e sem amigos que enfrenta o bullying dos colegas de classe e os maus-tratos da mãe, uma religiosa fanática. Ao despertar poderes telecinéticos, Carrie se depara com uma maneira de se vingar daqueles que a machucaram.


Para além do terror visceral de King, a obra aborda a violência psicológica perpetuada por Margaret White (Piper Laurie) em sua própria filha, com atitudes baseadas em um conservadorismo radical, cruel e controlador. Vendo em Carrie um reflexo dos próprios erros, Margaret retrata uma mãe complexa e longe dos padrões de uma maternidade amorosa e dedicada, cujos ideais e objetivos se sobrepõem ao bem-estar, ao diálogo e à compreensão para com a filha.


Disponível na Telecine e para aluguel na Amazon Prime.


PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN (2011)


Reprodução: Internet
Reprodução: Internet

Diferente de Margaret, em “Carrie, a Estranha”, Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) não busca culpar o filho Kevin (Ezra Miller) pelos próprios erros, mas entra em uma jornada de angústia e confusão para entender como o exercício do seu papel de mãe influenciou no destino que Kevin teve. Também baseado em um romance, escrito por Lionel Shriver, “Precisamos falar sobre Kevin” chegou aos cinemas em setembro de 2011, com direção e roteiro de Lynne Ramsay. Na trama, acompanhamos Eva, uma mulher reclusa e temerosa, tropeçando entre o presente e o passado enquanto busca compreender o que levou seu filho primogênito a cometer o inimaginável.


A obra se desenrola através da relação frágil entre Eva e Kevin, uma que é sublinhada sutilmente pelo medo, a ausência e a culpa. No drama de Eva, uma mãe violentada pelas expectativas sociais do seu papel e pela responsabilidade pesada que abraça se apresenta, mostrando como as imposições e idealizações de um amor materno incondicional são capazes de prejudicar não apenas o filho, como também aquela no dever de exercê-lo. 


Disponível na MUBI e na Amazon Prime.



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