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Crítica: Pobres Criaturas, estranho e fantástico

  • Foto do escritor: Rayane Lopes
    Rayane Lopes
  • 5 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura

Indicado a 11 categorias do Oscar, o longa, estrelado por Emma Stone, aborda liberdade feminina por meio de uma estética surrealista e steampunk


Atriz Emma Stone usando um vestido ro

Do alto de uma ponte uma mulher encara seu destino e na tentativa de encerrar a vida, uma nova criatura renasce, mesmo que contra sua vontade. É assim que se inicia “Pobres Criaturas”, que chegou aos cinemas em fevereiro já com grandes expectativas do público por ter sido indicado a 11 categorias do Oscar, incluindo melhor filme, melhor direção e melhor atriz.


Nos primeiros momentos do filme, Bella Baxter (Emma Stone), uma figura estranha, desengonçada, ingênua e quase caricata toma conta da cena e encanta o público. Eu disse “quase” porque Stone é brilhante e consegue humanizar a personagem em cada segundo em que aparece na tela. Provavelmente esse é um dos trabalhos mais difíceis da carreira da atriz, interpretado com maestria.


Sob direção de Yorgos Lanthimos, a trama narra a história de Bella, uma mulher violada por homens até mesmo na hora de (re)nascer. A protagonista é uma jovem cheia de incógnitas, sem passado e com uma vida sem cores, literalmente, pois essa foi a escolha do diretor para os primeiros 30 minutos de filme, que também representam “o início da vida” de Bella. E não, na tela não vemos uma criança, o que existe ali é uma mulher adulta, mas que por algum motivo parece uma garotinha em pleno desenvolvimento, aprendendo a falar, andar, desejar e também sofrer.


Não se sabe ao certo de onde Bella veio, mas o que fica claro ainda no início é que de alguma forma ela é uma criação de Godwin Baxter (Willem Dafoe) - ou como ele mesmo prefere ser chamado “God” - um médico renomado e que de muitas formas remete ao clássico “Frankenstein”, não só como criador, mas como a própria criatura. 


A vida de Bella parece um experimento científico, no qual todos os passos e evoluções são anotados e a criatura precisa estar nas condições e ambientes ideais, ou seja, na casa de God, trancada. No entanto tudo muda com a chegada de Duncan Wedder (Mark Ruffalo), um personagem de caráter duvidoso, mas que ao mesmo tempo é o único a propor o que Bella mais deseja: liberdade. Nossa protagonista parte então para uma jornada de autoconhecimento e de conquista sobre os direitos de si. E é a partir desse momento que a vida da jovem ganha cor na tela.


Sexo, pobreza, maldade, machismo, empoderamento, dor, prostituição e liberdade são algumas das coisas que Bella encontra pelo caminho. A viagem única em busca de novas sensações a leva por caminhos inesperados, mas cativantes. A cada passo trôpego e desajeitado algo novo é aprendido. Ela está aprendendo não só a andar, mas também a viver e a gostar dessa vida.


Como uma criatura nova, em meio a um mundo vasto, nossa heroína precisa aprender a lidar com questões que não fazem nenhum sentido para ela: por que homens se acham com direito ao corpo dela? Por que ela não pode agir com espontaneidade? Por que fingir gostar de algo ou mesmo se calar diante de algumas situações? Por que a humanidade está em constante miséria e ninguém faz nada para ajudar? São muitas perguntas, as respostas Bella vai encontrar sozinha, muitas vezes desafiando cada uma delas e fazendo valer a própria verdade.


Em muitos momentos, a trama ganham ares de ficção científica, com um toque de mundo fantástico, trazendo muitos elementos do steampunk, subgênero da ficção no qual a Era Vitoriana é retratada com elementos futuristas, e até mesmo do surrealismo, com cenas que parecem pertencer a um sonho. Figurino e design de produção são essenciais para a construção da narrativa.


Trilha sonora e fotografia garantem ao longa os efeitos de estranheza - marca registrada de Lanthimos, presente em trabalhos como em “A Favorita” e "O Lagosta”. Os sons parecem que ainda não encontraram o ritmo certo,  meio tortos e desajeitados, assim como Bella. Já as câmeras são posicionadas em ângulos pouco usuais. Muitas vezes a câmera olho de peixe captura cenas tão íntimas e estranhas, que o espectador se sente um intruso, presenciando algo vergonhoso e escondido.


Pobres Criaturas é estranho, é surpreendente e é libertador. Trazendo uma crítica a como as mulheres têm os próprios corpos violados o tempo todo e como são obrigadas a se comportar socialmente. Meu conselho? Esqueça seus pudores e se encante com cada detalhe desse conto de fadas para maiores de 18.




2 Comments


durcisa
Mar 06, 2024

Já tinha vontade de assistir e com esse texto maravilhoso, Rayane, não vejo a hora de comprovar tudo. Parabéns!

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Ana Luiza
Ana Luiza
Mar 06, 2024

Muito bomm, tava em dúvida se valia apena assistir o filme, fui convencida

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