Entrelaçando Saberes
- Clarisse Barbosa
- 28 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de mar. de 2024
Helena Duarte ou, como ela se declarava, Francisca Helena Jeronimo Duarte. Um nome bem grande assim como sua história com o artesanato.

No final de um dos vários corredores daquela feira de artesanato, havia cestos, sousplats, - peças utilizadas sob os pratos que ornamentam e protegem a mesa - e bolsas, tanto aquelas que podem ser colocadas no ombro, quanto outras cujo as alças cruzam o tronco de quem as utilizam. Apesar da variedade de objetos dispostos naquele estande, uma característica ligava todos aqueles utensílios: sua matéria prima, a palha.
Acima do rosa vibrante que, nas bolsas, contrastava com o bege das folhas de carnaúba secas, sobressaia o rosto sorridente de uma mulher que, com brilhos nos olhos, se apresentava como a dona das mãos que deram vida aos trançados de palha. Aqueles que se transformaram em peças distintas. Helena Duarte ou, como ela se declarava, Francisca Helena Jeronimo Duarte. Um nome bem grande assim como sua história com o artesanato.
Durante a infância, no distrito de Aracatiaçu, localizado na cidade cearense de Sobral, Helena aprendeu o ofício dos trançados de palha com sua avó e com sua mãe. E, da mesma forma que elas transmitiram o conhecimento entrelaçado à confecção de suas delicadas peças, Helena atuou como instrutora e compartilhou, com diversas pessoas, seus saberes.
Porém, somente na segunda metade da década de 80 que a artesã, de fato, começou a usar sua arte como fonte de renda complementar. Complementar pois não só do artesanato ela vive, mas também da terra; da agricultura, da produção de queijos, ela tira parte de seu sustento. E ainda, como muitas outras mulheres, além do ofício, ela divide o tempo com tarefas domésticas. Desta forma, somente suas tardes são preenchidas com a confecção de seus acessórios artesanais.
E sem o artesanato, sem seus cestos, sem suas bolsas, como seria sua vida? Helena franziu a sobrancelha e, pensativa, admitiu que, sem a palha, sua vida seria voltada apenas para a agricultura. Atividade que, por conta dos invernos irregulares, vem se tornando cada vez mais desafiadora.
Felizmente, durante suas tardes, quando sua mente está lotada de preocupações, de problemas fora de seu controle, como a chuva que cai de maneira inconstante, ou de perguntas metafóricas como “quem eu seria sem o artesanato?”, Helena entrelaça a palha. A cada trançado, sua sua mente se esvai e suas sinapses se concentram apenas no próximo movimento a ser realizado por suas mãos. Pouco a pouco, uma nova peça toma forma e Helena, com a cabeça mais leve, mais aberta, se sente realizada.
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