Por sob as ondas de um mar de areia colorida

Para a artesã não tinha esse negócio de feriado não, todo dia era santo e convidava trabalhar sem demora.

Eram várias garrafas de tamanhos distintos, a venda enfileiradas, chamavam a atenção de quem via convidando a chegar mais perto. A maioria já cheia ou sendo enchida trazia em seu interior não a comum água que sacia, mas a areia seca que deslumbra. Um oásis colorido, de dunas e dunas sem fim que as mãos hábeis de Maviniê Mota iam engarrafando uma por vez.

Todos os dias eram assim, com a espátula na mão moldando os grãos em desenho. Para a artesã não tinha esse negócio de feriado não, todo dia era santo e convidava trabalhar sem demora. Deste jeito, o tempo ia passando. Eram oito, na maioria das vezes, doze horas diárias empreges debruçada sobre as garrafas coloridas. O serviço era cansativo, mas isso não o tornava menos prazeroso.

De grão em grão foram passados 40 anos desse ofício que Maviniê aprendeu com a família da cunhada. Foi a partir dele que ela se firmou, se criou e tirou o sustento de sua família. Houve momentos de dificuldade, é claro, muitos dos que trabalhavam com ela desistiram pelo caminho. Mas Maviniê permaneceu firme apoiada no amor que tinha por sua arte.

Deste afeto ela sentiu crescer dentro de si a necessidade de transmitir o que sabia e manter, assim, viva a arte da areia. Então, além de fazer, passou também a ensinar. Primeiro no Ceará, sua terra, e depois pelo mundo. Contudo, as coisas não eram tão simples e para conseguir viajar a artesã se empenhava em correr atrás de soluções. O esforço era tanto que não demorou a ser reconhecido, trazendo consigo o apoio necessário.

Deste modo, Maviniê cruzou o globo através das ondas de um mar de areia colorida, alcançando os 5 continentes. Primeiro um país depois outro, quando deu por si já tinham sido 37. A artesã lembra com gosto desses momentos símbolos de sua arte e paixão, refletindo como nunca imaginou que o artesanato poderia levá-la conhecer tantos povos e culturas.